6 de março de 2014

[Cabine da Pipoca] Ela: Um romance do ciberespaço


Mesmo depois de tantas produções de ficção cientifica abusarem da relação homem-máquina, ainda há a possibilidade de analisar o tema na maneira sensível e introspectiva de Spike Jonze. Levando em conta a inteligência artificial na tentativa de simular o sentimento humano, já vista em variados filmes que vão desde Um Robô em Curto Circuito (1986), O Homem Bicentenário (1999), Inteligência Artificial (2001), clipe de Bjork e até episódios de Super Vicky, o diretor detalha seu enredo ao explorar o dilema de um rapaz ao se apaixonar pelo seu sistema operacional. Nada como o apelo comercial de um novo produto para garantir a perfeita companhia a um protagonista no auge de seu isolamento. Desconsiderando a carência emotiva, a solidão abordada chega a lembrar sua adaptação de Onde Vivem os Monstros (2009), porém com a imaginação infantil como suporte à realidade.

Boa parte do longa apresenta o diálogo entre o pacato moço de bigode, interpretado por ninguém menos que Joaquin Phoenix, e sua mini versão de HAL 9000 aprimorada, cuja voz reproduzida por Scarlett Johansson demonstra mais delicadeza e senso humor, contrariando ao comportamento limitado e fatalista de seu homenageado. Além de toda a sensualidade sonora, o pequeno affair de bolso é responsável por fazer acreditar na própria existência de acordo seu potencial em aprender a sentir. Por outro lado, paralelo a toda essa virtualidade, há a personagem de Amy Adams com a mesma fragilidade emocional de Theodore (Phoenix), num tempo diferente à uma real crise de relacionamento.

O cenário da trama ambienta o familiar “futuro” breve com o pé lá no passado ao observar a tecnologia a serviço das coisas esquecidas, como cartas manuscritas na base de palavras forjadas. A beleza estética é dominada por cores vivas que indicam algo mais intimo, tanto no figurino Theodore, como também o vermelho de uma tela de computador, opondo-se ao velho azul do qual estamos acostumados. Para acompanhar a sutil trilha sonora feita por artistas que acompanham os trabalhos de Jonze por muito tempo, a fotografia atrai os olhos viciados pelas habituais cenas de casal quando difere no espaço sempre vazio ao lado do personagem. É como se houvesse acomodação de Theodore dentro de seu cativante novo mundo sem perceber muitas outras pessoas tão solitárias quanto ele à sua volta, até mesmo a vizinha Amy (Adams) na aparente vida padrão.

Ainda que o contexto principal seja questionado com intensidade, mesmo com ritmo sereno, vários outros pontos chamam a atenção ao acompanhar o romance inusitado. O primeiro deles, talvez o mais chocante, é uma terceira pessoa disposta a ser interface numa relação física, movida pela curiosidade de encontrar o exemplo de amor verdadeiro. Isso mostra a inversão de papel imposta por um incrível dispositivo tecnológico ainda com determinadas limitações ao se aproximar da cobiçada existência humana. O segundo é o debate entre um ser ágil no aprendizado através de seus livres elétrons programados contra a básica experiência ciumenta de um pobre mortal. Por ultimo, e mais comovente, está o sentimento de alguém focado no trabalho de escrever cartas para pessoas que nunca chegou a conhecer ao invés de apropriá-lo em seus próprios relacionamentos.

Título original:   Her
Diretor:   Spike Jonze
País:   USA
Categoria:   Drama
Ano:   2013
Atores:   Joaquin Phoenix, Lynn Adrianna, Lisa Renee Pitts, Gabe Gomez, Chris Pratt, Artt Butler, May Lindstrom, Rooney Mara, Bill Hader, Kristen Wiig, Brian Johnson, Scarlett Johansson, Amy Adams, Matt Letscher, Spike Jonze
Avaliação:   9,0
Site oficial: www.herthemovie.com

Sinopse:
Escrito e dirigido por Spike Jonze, Ela se passa em um futuro próximo na cidade de Los Angeles e acompanha Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um homem complexo e emotivo que trabalha escrevendo cartas pessoais e tocantes para outras pessoas. Com o coração partido após o final de um relacionamento, ele começa a ficar intrigado com um novo e avançado sistema operacional que promete ser uma entidade intuitiva e única. Ao iniciá-lo, ele tem o prazer de conhecer Samantha (Scarlett Johansson), uma voz feminina perspicaz, sensível e surpreendentemente engraçada. A medida em que as necessidades dela aumentam junto com as dele, a amizade dos dois se aprofunda em um eventual amor um pelo outro. Ela é uma história de amor original que explora a natureza evolutiva - e os riscos - da intimidade no mundo moderno.

Assista abaixo o trailer oficial do longa:



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