8 de julho de 2013

[Cabine da Pipoca] Cinema na Flip 2013


Sabemos que hoje não é dia de cinema no O Barquinho Cultural e muito menos é sexta-feira, mas por forças maiores, não deu para subir a coluna da Cabina da Pipoca na semana passada e como não queremos deixar nossa tripulação na mão, por não deixá-los informados sobre o mundo cultural, nós resolvemos subir não um, mas dois textos de cinema para vocês e além é claro, do desta semana, que será especial rock and roll aqui no OBC.

Mas vamos ao que interessa e subir os atrasados, que é claro que iremos falar sobre a Flip 2013, que aconteceu semana passada do dia 3 a 7 de julho, na cidade de Paraty, Rio de Janeiro e a como se sabe, o cinema é uma arte literária e com isso, teve a participação do cineasta Nelson Pereira dos Santos, que marcou presença na última mesa no evento, da sexta-feira (5), o diretor de "Vidas secas" e "Memórias do cárcere" , ambos baseados em obras de Graciliano Ramos, contou histórias dos bastidores das filmagens. Na maior parte do tempo, os episódios eram inicialmente citados pelo mediador, Claudiney Ferreira, que então incentivava Nelson Pereira a detalhá-los.

O debate do cineasta teve exibições de trechos de longa, como o caso da morte da cachorra Baleia em “Vidas secas”. Ali, vieram alguns dos principais momentos da mesa. Nelson Pereira recordou-se do sucesso que o bicho fez no Festival de Cannes em 1964 e de uma acusação de ter assassinado de verdade a “intérprete” da personagem.

“Uma condessa italiana ficou furiosa com o filme, disse que só povo subdesenvolvido, para fazer o filme, mata o animal”, comentou. “Aí, a Air France [companhia aérea] ofereceu uma passagem para a Baleia ir para Cannes. Essa história estourou.” Segundo ele, a tal defensora dos animais seguiu cética, argumentando que, na verdade, a produção encontrou uma nova cachorra apenas para exibir aos desconfiados – “porque vira lata é tudo igual”.

O cineasta detalhou que pretendi, em princípio, trabalhar “cientificamente” com a cachorra para dirigi-la, usando um “método pavloviano, de reflexo condicionado”. Na prática, confessou Nelson Pereira, a ideia era deixá-la sem comer e, apenas na hora das filmagens, distribuir porções de refeição estrategicamente pelo set, conforme a necessidade de movimentá-la pelo espaço.

De acordo com ele, contudo, o plano fracassou. Quem sabotou foi um próprio integrante da equipe, descoberto após alguns dias. Era o próprio ator protagonista, Jofre Soares, responsável pelo papel de Fabiano e por dividir clandestinamente o almoço com Baleia. “O Jofre não comia junto com a equipe, saía andando e ia derrubando pedaço de carne para ela comer. Eu falei: ‘Já que você deu de comer, você vai dirigir a baleia!’.”

Nelson Pereira afirmou que cogitou a possibilidade de, na versão para a tela, dar um novo final à personagem Madalena. No livro, ela se mata. Ao receber uma carta dando conta da proposta de alteração, o próprio Graciliano respondeu que aceitava, mas desde que ficasse desligado da produção.

“A resposta do Graciliano foi: ‘Tudo bem, podem fazer, mas tira o meu nome dessa porcaria’”, apontou. O escritor teria recorrido ao óbvio: o suicídio de Madalena é a razão pela qual o Paulo Honório, o narrador, “escreve o livro”. Sem morte, não haveria romance – nem filme –, portanto. Nelson Pereira, por seu lado, justificou o ponto de vista: “Fiquei apaixonado pela Madalena”. Daí a opção, longo abandonada, por tentar mantê-la vida.

Por fim, o mediador instigou Nelson Pereira a explicar por que não adaptou um terceiro livro de Graciliano, “São Bernardo”. O cineasta contou que foi o próprio autor quem o “impediu” de levar adiante o projeto, quando a ideia do roteiro estava pronta.


Assista abaixo um trecho do filme Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos:


Isso ai tripulação, aguardem pois ainda terá mais textos da Flip 2013, na coluna do Cantinho Literário.

Por Priscila Visconti

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