Neste fim de semana estive em Curitiba-PR. Faço pós-graduação lá e um dos exercícios da aula deste módulo era observar o Passeio Público com outros olhos. Encontrei um personagem. Alguém que esperava...
O sorveteiro espera. Espera por algum
cliente ou um conhecido para conversar. Espera, solitário, com o olhar
tranquilo, mesmo sabendo que o valor vendido até pouco antes do meio-dia nem
paga o próprio almoço. O céu está nublado, mas nem isso afasta seu Manoel do
trabalho.
O sorriso incompleto traduz a alegria do
aposentado de 85 anos, que há 19 instala o carrinho de sorvete no Passeio
Público de Curitiba. Sim, antes o local era melhor. As vendas eram melhores. O tempo
levou a jovialidade de Manoel, mas também o prestígio e a credibilidade do
Passeio. O lago poluído, crianças brincando, gente dormindo, prostitutas
negociando, pássaros cantando. Um aglomerado de coisas contrastantes, assim
como o vendedor de sorvete em uma manhã um pouco fria e nebulosa, mas feliz
pelos 50 anos de casamento – o qual conta com orgulho.
Nem com tanto tempo de convivência a mulher
do alagoano de Maceió consegue convencer o sorveteiro a deixar o Passeio
Público. Se fica em casa, ele assiste desenhos. Melhor trabalhar. E Manoel nem
tem medo dos frequentadores do local. Um telefone no bolso garante que qualquer
atitude suspeita seja imediatamente avisada aos policiais. Eles já o conhecem –
os policiais, os drogados, as prostitutas, os feirantes. E respeitam.
Em uma manhã nublada, o sorriso, com alguns
dentes faltando, ilumina o Passeio administrativamente abandonado. Mesmo sem
sol ou calor, é impossível resistir ao sorvete do senhor de olhos cansados. Não
por pena ou recompensa pelo tempo dedicado aos curiosos, mas pelo amor de
Manoel Amancio da Silva, demonstrado em cada palavra, em cada lembrança. Até,
de certo modo, demonstrado no próprio nome. Aos poucos, fico convencido de que
voltarei mais vezes ao Passeio Público. E, como muitas crianças, vou anunciar
que quero sorvete, mas quero o sorvete do seu Manoel.
Por Fábio Rodrigues
Muitas vezes admiramos pessoas por cargos importantes ou até mesmo pelo "prestígio" social, e esquecemos dessas pessoas simples, mas que fazem toda a diferença na nossa convivência.
ResponderExcluirBelo texto rapaz!
Obrigado pelo retorno, Gabriel! Sim, precisamos estar mais atentos aos outros. Às vezes, precisam apenas de alguém para conversar. Fazem a diferença em nossa vida e fazemos a diferença para eles. =)
ExcluirFábio! que texto incrível! eu adorei. E sim, o segredo do que nos torna felizes e melhores está no singelo. Parabéns!
ResponderExcluirObrigado, Lucila! Fico feliz que tenha te agradado. Espero que esse texto possa despertar ainda mais sentimentos bons! =)
ExcluirAdorei seu texto Fabinho, por isso que sempre digo, esse povo mais velho, que só sabe ligar a Tv e o microondas de eletrônico, tem muito mais que aprender. Parabéns Fá! ;)
ResponderExcluirObrigado pelas palavras, Pri! Isso sempre incentiva mais! =)
ExcluirParabéns pelo texto e pela forma com que delicadamente nos mostra a beleza de simplesmente VIVER!!!
ResponderExcluirObrigado, Marcia! Fico feliz por poder passar a você a emoção que sinto em cada história contada. Fico mais feliz pela sua amizade e reconhecimento!
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