23 de agosto de 2013

[Cantinho Literário] Dos meus olhos, no meu jardim

Fabrício Cunha

As crianças da rua da minha casa parecem não cansar. A todo momento, pelo menos nos momentos em que as vejo, estão correndo, brincando, gritando. São assim. Ligadas em 220 volts. É o que há de mais belo nesse período da vida. Ser feliz, apenas se preocupando em ganhar algum jogo, em fazer a lição de casa ou, no máximo, lavar a louça do almoço.


A beleza está nos olhos de quem vê, de quem já passou por esse período, de quem deseja voltar a ser criança. A beleza que só os corações ainda puros conseguem perceber de cara. A beleza que qualquer um consegue observar, se dedicar um tempo a isso.
No jardim dos meus sonhos, as flores são reais. Delicadas, suaves, em um tom de roxo diferente, mais vivo, mais bêbado. No jardim com o qual sonho, sinto cheiro de terra. Sinto o sabor do barro na sola do sapato e o cheiro do mato verde esquentado pelo sol.

No jardim com o qual sonho, enxergo a mim mesmo. Enxergo um futuro desconhecido, sem detalhes, sem algo formado. Enxergo beleza no que faço, mas é só. Não identifico formas, palavras, imagens claras ou suspeitas de movimentos. Apenas sei que escrevo. E, para mim, isso basta. Isso é belo, nesse exato período da minha vida e no futuro, creio. A beleza que procuro nos outros, nas coisas, nas cores, é a beleza que desejo traduzir em texto. Sem imaginações ou cenas construídas, mas com traduções da vida real.

No jardim dos meus sonhos, não desejo enxergar tristezas, mas sei que será inevitável. Às vezes, a dor também é bela porque faz crescer, faz ser. Ser alguém melhor, com uma visão melhor e caráter de gente. Caráter de gente que escreve para gente histórias de gente. A beleza está nos olhos de quem vê, mas é preciso saber enxergar. É preciso querer enxergar.

Por Fábio Rodrigues

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