14 de setembro de 2012

Cabine da Pipoca

por Estela Marques



Conheço - e você certamente conhece também - pessoas que idolatram uma obra após assistir sua adaptação dos livros para o cinema. Um importante teórico da comunicação chamado Marshall McLuhan disse um dia que a exploração de todos os sentidos atrai mais a atenção humana do que o uso de um ou dois. A ideia deste mocinho explica e me permite compreender a afirmação que fiz no começo desse texto. Nessa tentativa ousada de atrair maior quantidade de pessoas, existe a possibilidade de nem sempre os roteiristas dos filmes conseguirem representar tão bem a obra que adaptaram. Este não foi o caso de O Caçador de Pipas.

Muito embora o filme resuma bastante a obra, dê menos atenção do que deveria a um dos momentos mais emocionantes do romance de Khaled Hosseini - a infância de Amir e Hassan - e falhe no detalhe da ausência de uma interação maior entre as personagens, críticas afirmam que o livro foi fielmente representado no longa de Marc Forster. 

Um dos destaques da adaptação, senão o maior, é a semelhança entre a descrição das personagens com os atores da afegã Cabul (cidade da primeira parte do romance) escolhidos para cada papel. Fala-se, inclusive, que durante as filmagens o próprio Khaled desconstruiu a ideia que tinha das personagens ao descrevê-las em seu livro quando observou pessoalmente seus intérpretes. Espetáculo à parte foram as cenas do torneio de pipas, como destaca Luisa Valle em texto para o Globo Online. Também chama atenção o cenário usado nas filmagens, que trouxeram para as telonas dos anos 2000 um oriente médio de acordo com seus conflitos vividos nos anos 1970 e, mais tarde, em 1990. 

Apesar de concordar com McLuhan quanto à sua afirmação sobre obras e os sentidos humanos, completo seu raciocínio com um porém. Sim, a exploração de uma grande quantidade de sentidos nos é bastante envolvente, mas romances bem escritos e detalhadamente contados exploram além do sensorial: nossa imaginação. Não há nada mais divertido, gostoso e desafiador do que construirmos cada cena descrita nas linhas bem traçadas de um livro. E O Caçador de Pipas, com certeza, faz isso por nós mil vezes. 

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