3 de agosto de 2012

Cabine da Pipoca

por Estela Marques
Foto: Internet



No vestibular da Universidade Federal da Bahia deste ano, cuja prova fora realizada ano passado, um dos filmes que fazia parte do conteúdo da prova de Língua Portuguesa era Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha. Assisti ao filme e, confesso, pouco entendi. Não digo que terminei a sessão da mesma forma que comecei - sem saber do que se tratava - porque a história me lembrava outras obras. 

Nomeadamente, o dilema sofrido por Manoel e Rosa e o drama da seca também vivido pelo casal remeteu-me a Vidas Secas, de Graciliano Ramos, no qual o estado de pobreza oriundo da estiagem e a estrutura familiar do casal protagonista, em ambas, se assemelham. Trazendo para o âmbito do cinema, o longa de Glauber Rocha tange num determinado momento com A Guerra de Canudos (1997), cujo filme retrata a guerra ocorrida entre 1896 e 1897, na Bahia, que tinha como oponentes o exército brasileiro e religiosos liderados por Antônio Conselheiro. Na obra de Glauber, o "conselheiro" era o santo Sebastião: inspirado em trajes, cultos, pregações e postura no personagem do drama de Sérgio Rezende. Outras figuras ainda compõem o elenco do cineasta baiano, como os cangaceiros Dadá e Curisco - personagens que me remeteram outra obra literária, de título com nome dos personagens, mas que prefiro deixar comentários em outro momento. 

Não fui a única a incompreender o longa de Glauber Rocha e os vestibulandos que também não a compreenderam não tiveram a dúvida apenas nos anos atuais. Enquanto vivo e diretor dos seus filmes, ele também era incompreendido, polêmico e tinha uma visão apocalíptica do mundo, o que é perceptivelmente demonstrado em suas obras. Por suas controvérsias, estava sempre sendo alvo de ataques dos dois lados da política: a direita e esquerda. Seus filmes tinham um quê a mais de crítica social (vê-se, como já foi citado, por Deus e o Diabo na Terra do Sol) e buscavam romper com os moldes importados dos Estados Unidos (o que é bastante percebido no mesmo filme). 

Talvez hoje, que estamos acompanhando um crescente rompimento com os enlatados americanos, Glauber fosse melhor compreendido e tivesse mais liberdade para fazer suas críticas à sociedade e ao mundo. Totalmente incompreensível ele não é. Os nossos questionamentos e confusões quanto a suas obras são justificadas pelo ínfimo contato com o produzido por ele e maior afeição àquilo produzido como se numa espécie de indústria cultural. 

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