Foto: Internet |
No vestibular da Universidade Federal da Bahia deste ano, cuja prova fora realizada ano passado, um dos filmes que fazia parte do conteúdo da prova de Língua Portuguesa era Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha. Assisti ao filme e, confesso, pouco entendi. Não digo que terminei a sessão da mesma forma que comecei - sem saber do que se tratava - porque a história me lembrava outras obras.
Nomeadamente, o dilema sofrido por Manoel e Rosa e o drama da seca também vivido pelo casal remeteu-me a Vidas Secas, de Graciliano Ramos, no qual o estado de pobreza oriundo da estiagem e a estrutura familiar do casal protagonista, em ambas, se assemelham. Trazendo para o âmbito do cinema, o longa de Glauber Rocha tange num determinado momento com A Guerra de Canudos (1997), cujo filme retrata a guerra ocorrida entre 1896 e 1897, na Bahia, que tinha como oponentes o exército brasileiro e religiosos liderados por Antônio Conselheiro. Na obra de Glauber, o "conselheiro" era o santo Sebastião: inspirado em trajes, cultos, pregações e postura no personagem do drama de Sérgio Rezende. Outras figuras ainda compõem o elenco do cineasta baiano, como os cangaceiros Dadá e Curisco - personagens que me remeteram outra obra literária, de título com nome dos personagens, mas que prefiro deixar comentários em outro momento.
Não fui a única a incompreender o longa de Glauber Rocha e os vestibulandos que também não a compreenderam não tiveram a dúvida apenas nos anos atuais. Enquanto vivo e diretor dos seus filmes, ele também era incompreendido, polêmico e tinha uma visão apocalíptica do mundo, o que é perceptivelmente demonstrado em suas obras. Por suas controvérsias, estava sempre sendo alvo de ataques dos dois lados da política: a direita e esquerda. Seus filmes tinham um quê a mais de crítica social (vê-se, como já foi citado, por Deus e o Diabo na Terra do Sol) e buscavam romper com os moldes importados dos Estados Unidos (o que é bastante percebido no mesmo filme).
Talvez hoje, que estamos acompanhando um crescente rompimento com os enlatados americanos, Glauber fosse melhor compreendido e tivesse mais liberdade para fazer suas críticas à sociedade e ao mundo. Totalmente incompreensível ele não é. Os nossos questionamentos e confusões quanto a suas obras são justificadas pelo ínfimo contato com o produzido por ele e maior afeição àquilo produzido como se numa espécie de indústria cultural.
Nenhum comentário:
Postar um comentário